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Dilma desiste de nome que ela mesma indicou para o Dnit

Em meio à faxina que tenta promover no Ministério dos Transportes, a presidente Dilma Rousseff pratagonizou um curioso episódio nesta segunda-feira: "desnomeou" o contador e administrador Augusto César Carvalho Barbosa de Souza antes mesmo que ele assumisse o comando da Diretoria Administração e Finanças do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Barbosa de Souza havia sido indicado pela própria presidente para o cargo - Dilma chegou, inclusive, a enviar o nome do contador para análise no Senado. Em ofício publicado no Diário Oficial da União nesta segunda, porém, a presidente pediu ao Senado a retirada de pauta do nome de Souza.
Souza foi desconvidado dentro da política de limpeza determinada por Dilma no setor de Transportes, envolvido em irregularidades que já derrubaram o então ministro Alfredo Nascimento e mais seis membros da cúpula da pasta ligados ao PR. A presidente havia indicado o contador por sugestão do ex-chefe de gabinete do ministério Mauro Barbosa, um dos primeiros afastados após o estouro do escândalo de corrupção na pasta - revelado por VEJA. Ele seria sabatinado no último dia 7 pela Comissão de Serviços de Infraestrutura do Senado, à qual compete chancelar as indicações presidenciais para o Dnit.  A decisão tem como objetivo de evitar a presença, nos postos-chave do Dnit, de nomes com potencial para criar problemas ao Executivo.
A posse de Souza parecia favas contadas - havia até relatório favorável do senador Blairo Maggi (PR-MT), aprovado na comissão, que o definiu como "qualificado para assumir o cargo". Mas a escolha sofreu um revés após a divulgação do esquema de corrupção na pasta, no início do mês. Com especialização em administração pública, Souza é oriundo da Controladoria Geral da União (CGU), onde exerceu funções de chefia, entre as quais a de coordenador-geral da área de Contas do Governo.
Desde 2006, Souza é ouvidor do Dnit e, a partir de 2008, passou a acumular também o cargo de corregedor da instituição, encarregado de investigar e punir responsáveis por desmandos. Agora, de investigador ele passa à condição de investigado pela CGU, que realiza uma auditoria minuciosa em todos os contratos da pasta. Souza não quis se manifestar sobre o desconvite. A assessoria do Dnit informou que a escolha ou retirada de nomes para a diretoria do órgão é de competência exclusiva da Presidência.
Os próximos alvos da "faxina" serão conhecidos em breve, segundo informações do governo. O ministro Paulo Sérgio Passos se reuniu nesta segunda por mais de duas horas com a presidente no Palácio do Planalto. Desde que assumiu o cargo, no último dia 12, ele vem anunciando demissões cirúrgicas de dirigentes do setor a cada reunião com Dilma. Entretanto, nesta tarde ele não se manifestou. Está prevista ainda a demissão ou afastamento, entre outros, do diretor de Infraestrutura Rodoviária do Dnit, Hideraldo Luiz Caron, e do presidente interino da Valec, estatal que cuida das ferrovias, Felipe Sanches.

Mudança de regras - Outra resolução no DOU altera as regras para a escolha do diretor-geral do Dnit. A nova norma dá ao ministro dos Transportes a prerrogativa de nomear o comandante interino do departamento em caso de vacância. Até agora, a ocupação do posto se dava de forma automática, de acordo com a escala hierárquica. Mas a potencial assunção de outros personagens problemáticos ao posto motivou a mudança na regra. Por via das dúvidas, a nova redação do Regimento Interno ressalta a necessidade de "conduta ilibada" na escolha do diretor.
“Em caso de impedimento ou vacância do diretor executivo, a indicação do substituto interino do diretor-geral será feita pelo ministro de estado dos Transportes, dentre servidores públicos federais de conduta ilibada e notório saber na área de transportes", diz a resolução.
O diretor-geral do Dnit, Luiz Antonio Pagot, está de férias. O substituto é José Henriqeu Sadok de Sá. O primeiro tem ligação com o esquema de corrupção revelado por VEJA. O segundo é casado com a dona de uma construtora que recebeu 18 milhões de reais do departamento, de acordo com reportagem do jornal O Estado de S. Paulo.

Por Veja