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Defesa tenta desvincular núcleos do mensalão

A defesa de cinco réus que integram os chamados núcleos financeiro e operacional do mensalão tentaram nesta terça-feira, no quarto dia de julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), se desconectar do esquema de compra de apoio de parlamentares no Congresso Nacional. Na prática, os advogados tentaram convencer os ministros que seus clientes não tinham o controle da situação e não sabiam a motivação das transações financeiras envolvidas no chamado valerioduto.
Até mesmo a defesa de Kátia Rabello, presidente do Banco Rural na época do estouro do escândalo, adotou uma tese diversionista: o advogado José Carlos Dias afirmou que a acusada nunca teve vocação para o mercado financeiro, chegou ao comando do banco por razões familiares e não controlava o dia a dia da instituição. Quem tinha essa responsabilidade, segundo Dias, era o vice-presidente do Banco Rural à época, José Augusto Dumont - que morreu em um acidente de carro.
"Ele era o homem que tocava o banco. Era ele, indiscutivelmente, o homem responsável por todas as operações do banco", disse o advogado, que defendeu a legalidade das transações financeiras feitas entre o banco e as empresas de publicidade de Marcos Valério de Souza, o operador do mensalão. Ao todo, a instituição repassou 32 milhões de reais ao grupo do publicitário.
“Essa moça que subiu à presidência do banco sem estar vocacionada está sendo julgada como quadrilheira. Ela está vivendo o inferno”,disse o advogado. "Kátia Rabello era uma bailarina que, por uma sucessão de tragédias, assumiu a presidência do Banco Rural",afirmou.

Não sabia - Tese semelhante adotaram os advogados de Simone Vasconcelos, ex-diretora administrativa da SMP&B de Marcos Valério, e Geiza Dias, ex-gerente financeira da mesma empresa. Apesar de ocuparem cargos importantes na companhia e terem distribuído em mãos os recursos do mensalão, as duas alegam que apenas cumpriram ordens e não sabiam das práticas criminosas. "Simone Vasconcelos não tinha consciência da ilicitude", afirmou seu advogado.
O advogado de Geiza Dias, Sérgio Abreu e Silva, chegou a chamá-la de "funcionária mequetrefe" e "batedora de cheques". O representante de Simone, Leonardo Yarochewsky, afirmou que ela não sabia a finalidade dos recursos que distribuía a parlamentares: "Simone estava cumprindo ordens. Era isso o que ela fazia e nada mais do que isso", justificou.
Sérgio Abreu e Silva também defendeu na tribuna o advogado Rogério Tolentino, que fez um empréstimo de 10 milhões de reais a Marcos Valério. O Ministério Público afirma que esse valor abasteceu o mensalão. Segundo Silva, Tolentino não sabia que os recursos abasteceriam um esquema criminoso. O fato de Rogério Tolentino ter ido a Portugal buscar recursos para o valerioduto foi minimizado pelo defensor: "Ele foi fazer turismo remunerado", disse Silva, sem aparentar ironia. "É um roteiro para novela das oito", afirmou o advogado, atacando a denúncia do Ministério Público.
O primeiro a falar foi Castellar Guimarães, representante de Cristiano Paz, então sócio de Marcos Valério. O advogado destacou o histórico profissional de sucesso de seu cliente e afirmou que Paz não exercia atividade financeira ou administrativa nas empresas SMP&B e DNA. "Ele se dedica integralmente à sua tarefa de criação, impossibilitando que pudesse ocupar qualquer outra função na empresa", alegou o advogado, sustentando a tese de que não há provas contra seu cliente.

Por Veja